Queixas de insônia são comuns na adolescência

Nessa faixa etária, adolescentes tornam-se mais vespertinos e pode ocorrer o atraso de fase de sono.

A insônia na adolescência, assim como em outros períodos da vida, é caracterizada pela dificuldade de iniciar e/ ou manter o sono. Em até 50% dos casos, a insônia pode coexistir com o atraso de fase do sono, uma vez que é comum o adolescente se tornar mais vespertino, tendo preferência por atividades no período noturno.

A prevalência da insônia é estimada em aproximadamente 10 a 30% das crianças e adolescentes e o aumento dessa incidência nos últimos anos está intimamente relacionado aos hábitos sociais da família, incluindo maior utilização de dispositivos eletrônicos e redes sociais.

Em estudos mais recentes, tal prevalência foi calculada em aproximadamente 18,5% entre adolescentes na Noruega, 20% entre crianças e adolescentes na Pensilvânia, e 21,4% em Portugal, com maior prevalência de insônia no sexo feminino nos últimos estudos.

Aspectos associados

Na adolescência, destacam-se alguns aspectos importantes. A insônia psicofisiológica pode ser também um dos fatores quando ocorre uma preocupação excessiva com o sono, com o dormir ou com o dia seguinte. Além disso, experiências negativas associadas ao dormir podem levar à insônia.

Outro aspecto são as modificações dos processos regulatórios circadianos e homeostáticos (aumento da propensão de sono durante o dia) e dos reguladores externos do sono que tendem a reduzir o tempo de sono e a causar um atraso no horário de dormir. Essa maior variabilidade é mais acentuada nos finais de semana e no período de férias escolares.

O estresse relacionado à pressão escolar também resulta, nesta faixa etária, em redução do tempo e pior qualidade do sono. Dessa forma, durante a adolescência, ocorre um aumento dos casos de insônia associados a transtornos psiquiátricos, especialmente depressão, estresse e transtornos de humor.

Impacto dos eletrônicos no sono

Com o avanço da tecnologia, o uso de smartphones, computadores, tablets, jogos de consoles e televisão, tem levado, cada vez mais e mais precocemente, a uma redução do tempo e pior qualidade do sono. A luminosidade das telas e a consequente supressão da melatonina; a frequente troca de mensagens ou o uso de redes sociais; o conteúdo inadequado e estimulante de jogos e internet são causas frequentes de insônia.

Fatores ambientais e comportamentais que afetam o sono:

• Inconsistência de rotinas e hábitos de sono inadequados
• Sedentarismo
• Barulho, som alto
• Temperatura inadequada
• Má higiene do sono
• Luminosidade excessiva 
• Uso de dispositivos eletrônicos (tempo de tela), principalmente à noite
• Abuso de cafeína, como refrigerantes, energéticos e chás.

Insônia Crônica: sinais e sintomas

• Dificuldade de iniciar o sono.
• Dificuldade de manter o sono.
• Despertar mais cedo que o desejado. 
• Resistência em ir para a cama em horário apropriado. 
• Cansaço/ fadiga e mal-estar. 
• Déficit de atenção, concentração ou memória. 
• Desempenho social, familiar, ocupacional ou acadêmico prejudicado. 
• Perturbação do humor e irritabilidade. 
• Sonolência excessiva diurna.
• Problemas comportamentais, como hiperatividade, impulsividade e agressividade.
• Motivação, energia e iniciativa reduzidas.
• Preocupações sobre ou insatisfação com o sono.

Quando os sintomas da insônia se tornam frequentes, com duração de pelo menos três meses, tendo impacto na qualidade de vida e no desempenho das atividades diurnas do adolescente, é importante procurar a ajuda de um médico especialista em Medicina do Sono para realizar o diagnóstico correto e a intervenção adequada.

O diagnóstico da insônia é realizado por meio de questionários e diário do sono para avaliar quantidade, qualidade e hábitos do sono, bem como a possível associação da insônia com outros transtornos do sono. A actigrafia e a polissonografia também podem ser solicitadas.

O tratamento envolve a terapia comportamental com a orientação sobre higiene do sono e condições ambientais para promover uma melhor qualidade do sono. Em alguns casos, pode ser necessário tratamento farmacológico, particularmente quando há comorbidades clínicas, psiquiátricas ou outros transtornos do sono associados.

 

Referência:
– ALVES, RC, In: Capítulo Insônia na Infância, ABN Neuro 2020.
– ALVES, RC, In: Distúrbios do sono na criança e no adolescente. 2 ed. São Paulo. Editora Atheneu, 2015.

Veja também o vídeo sobre distúrbios do sono na infância: