Distúrbios do despertar são comuns na infância

Sonambulismo, terror noturno e despertar confusional podem interromper o sono.

Estudos estimam que mais de 25% das crianças em idade escolar apresentam movimentação excessiva durante o sono ou sono agitado. Dependendo do grau e frequência desses episódios, pode ser importante investigar a ocorrência de parassonias do sono, como terror noturno, sonambulismo e despertar confusional, entre outras.

As parassonias são manifestações físicas indesejáveis que podem acometer o sistema motor e o sistema nervoso da criança, ocorrendo durante o sono ou na transição sono-vigília. A prevalência na infância é alta e observada em 14% das crianças entre 7 a 11 anos, sendo mais frequente entre 9 e 10 anos, tanto em meninos quanto meninas.

Segundo a Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono, as parassonias na infância são classificadas em:

• Distúrbios do despertar do sono NREM*
Despertar confusional, sonambulismo e terror noturno.

• Parassonias do sono REM*
Transtorno comportamental do sono REM, pesadelos e paralisia do sono recorrente.

• Enurese noturna (o xixi na cama involuntário)

Estudos indicam que crianças com manifestação de parassonias têm maior taxa de resistência a ir para a cama, demoram mais para iniciar o sono e  apresentam despertares mais freqüentes e tempo de sono mais reduzido. Aquelas que têm sonambulismo podem ter mais dificuldade para iniciar o sono do que as crianças com terror noturno, por exemplo.

Nesse texto vamos abordar especialmente os distúrbios do despertar que, muitas vezes, podem deixar as famílias preocupadas e aflitas.

Sonambulismo

O sonambulismo caracteriza-se por episódios de despertar parcial do sono NREM com comportamentos motores estereotipados e automáticos. Nesse caso, é comum a criança sentar na cama, levantar e andar vagando pela casa, o que pode durar de poucos minutos a meia hora. Os episódios ocorrem geralmente no terço inicial da noite e a criança não se lembra do ocorrido.

Mais comum entre 8 e 12 anos, o sonambulismo tem uma prevalência na população de até 17%, sendo uma desordem autolimitada que também deseparece ao redor de 10 anos.  Em 10% a 25% dos casos é possível identificar história familiar de sonambulismo, enurese (liberação involuntária da urina), terror noturno e sonilóquio (falar durante o sono).

Fatores como febre, privação de sono, atividade física, estresse, ansiedade e apneia do sono podem aumentar a freqüência dos episódios.

Também é importante adotar medidas de segurança para evitar acidentes:

• Tranque janelas e portas que possam dar acesso as escadas.

• Instale um alarme na porta da criança para alertar os familiares se ela sair do quarto.

Terror noturno

Mais comum em meninos, o terror noturno consiste em episódios de despertar parcial durante o sono NREM. São despertares súbitos em que o paciente grita e senta-se na cama com expressões de pavor. A criança pode ter taquicardia, taquipnéia (aceleração do ritmo respiratório), rubor de pele, sudorese e midríase (dilatação da pupila), além da amnésia total do ocorrido.

Os episódios costumam durar de 5 a 20 minutos e o retorno ao sono é imediato. Há uma incidência maior entre 4 a 12 anos de idade. Em um estudo feito com crianças de 1 a 14 anos, os pesquisadores relataram uma incidência de 2,9% de terror noturno, com ou sem episódios de sonambulismo.

Despertar confusional

Com predisposição genética, os despertares confusionais ocorrem no início do sono. São mais comuns na infância e diminuem com a idade. Eles consistem em despertares parciais, com fala arrastada, perda de memória, suor execessivo, choro inconsolável ou agressividade. Em geral duram de 5 a 15 minutos, mas podem durar até mais de uma hora.

A prevalência é de 17% entre crianças de 3 e 13 anos, geralmente desaparecendo após os 10 anos. A associação com sonambulismo é freqüente, sendo que um estudo revelou que 36% das crianças com sonambulismo haviam apresentado despertares confusionais na fase de pré-escolar. Os episódios podem ser precipitados por medicamento com ação no Sistema Nervoso Central, atividade física e privação de sono.

Vale dizer que os distúrbios do despertar podem ser compreendidos como uma mudança imperfeita que interrompe a progressão normal dos ciclos do sono. A transição do sono de ondas lentas ao sono mais superficial, imediatamente antes do inicio do sono REM é usualmente anormal. Dessa forma, a criança não está totalmente acordada nem totalmente dormindo.

O diagnóstico desses distúrbios do despertar é realizado por meio da avaliação clínica. No entanto, em alguns casos, o médico poderá solicitar exames de polissonografia.

Quanto ao tratamento, este inclui o aconselhamento familiar sobre o caráter benigno dos distúrbios, além da recomendação para evitar o consumo de cafeína e situações de privação de sono. Eventualmente, o médico poderá indicar medicamentos específicos.

 Dicas para os pais

• Mantenha a calma.

• Não tente acordar a criança durante os episódios.

• Cuide para que ela esteja protegida, evitando que se machuque.

• Espere a criança se acalmar e voltar a dormir.

• Lembre-se que essa é uma fase comum e irá passar.

• Caso os episódios estejam muito frequentes e intensos, procure ajuda de um médico especialista em Medicina do Sono.

 

* Sono REM (REM: Movimentos Oculares Rápidos) e Sono NREM (nao-REM) são duas fases diferentes do sono.

Referência:
Livro
Pessoa, JH ; PEREIRA JR., JC; ALVES, ROSANA S. CARDOSO . Distúrbios do Sono na Crianca e no Adolescente (2ª edição). 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2015. v. 1. 287p .

Veja o vídeo explicativo sobre o tema:

Assista também o bate-papo sobre sono infantil agitado com a Dra. Ana Escobar: