Sono agitado na infância é uma queixa comum no consultório

Estudo publicado na revista científica Sleep Medicine classifica o sono agitado como um novo transtorno do sono na infância.

Crianças com movimentação excessiva durante o sono, que chutam e não conseguem ficar paradas em nenhuma posição, acordam de ponta cabeça, em posições completamente diferentes daquelas que dormiram, ou quando acordam percebem que estão deitadas no chão do quarto. Essas são queixas muito frequentes das famílias no dia a dia dos consultórios pediátricos e que, muitas vezes, são encaminhadas para nós, especialistas do sono.

Existem diversos diagnósticos possíveis para o sono agitado que devem ser investigados. Ronco, apneia obstrutiva do sono (AOS) e síndrome das pernas inquietas são algumas causas que podem gerar desconforto na criança fazendo com que ela se mexa bastante enquanto dorme.

No caso da apneia do sono, que se caracteriza pela obstrução parcial ou completa da via aérea durante o sono, a movimentação excessiva ocorre porque a criança procura uma posição melhor para conseguir dormir, tentando respirar melhor. Outras causas do sono agitado podem ser a Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) e as parassonias do sono, como terror noturno, sonambulismo e despertar confusional que são distúrbios do despertar comuns na infância.

Apesar do sono agitado ser reportado na literatura médica desde a década de 1970, muitas crianças, até agora, ficavam sem um diagnóstico definido, pois não se encaixavam nos critérios das patologias conhecidas, apesar do comprometimento clínico como sonolência excessiva diurna, fadiga, irritabilidade e outros sintomas.

Nova perspectiva

A novidade é que a revista Sleep Medicine publicou um artigo em que especialistas sugerem a classificação de uma nova doença do sono para o público pediátrico, denominada “Transtorno do Sono Agitado ou Transtorno do Sono Inquieto” (do original: Restless Sleep Disorder – RSD).
O artigo científico “Consensus diagnostic criteria for a newly defined pediatric sleep disorder: restless sleep disorder (RSD)” já está disponível online e a versão impressa será publicada na edição de novembro de 2020 (Volume 75).

A partir desse trabalho, 10 médicos internacionais, especialistas em Medicina do Sono, concluíram que existem evidências suficientes para classificar uma nova entidade clínica, o “Transtorno do Sono Agitado”, considerando a aplicação em crianças e adolescentes com idades entre 6 e 18 anos.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores revisaram 250 artigos científicos sobre o tema, discutiram suas próprias experiências e critérios diagnósticos para a definição do novo distúrbio do sono. Essas recomendações foram revisadas e endossadas pelo Comitê Executivo do Grupo Internacional de Estudo da Síndrome das Pernas Inquietas (IRLSSG).

Oito critérios para o diagnóstico

Segundo o artigo científico, o diagnóstico do transtorno do sono agitado no público infantil deve ser baseado em oito critérios essenciais:
• Queixa de sono inquieto/ agitado relatado por um familiar ou cuidador.
• Movimentação excessiva que envolva grandes grupos musculares, como o corpo inteiro ou os quatro membros, diferenciando da Síndrome das Pernas Inquietas em que a movimentação é mais restrita às pernas.
• Movimentos ocorrem durante o sono ou próximo do início do sono, o que caracteriza que se trata de um transtorno do sono.
• Documentação por meio da vídeo-polissonografia, mostrando um índice total de cinco ou mais movimentos grandes corporais por hora de sono.
• Ocorrência dos sintomas de, pelo menos, três vezes por semana.
• Presença do sono agitado pelo período mínimo de três meses.
• Impacto clínico com alterações comportamentais, sociais ou de aprendizado, como sonolência excessiva durante o dia que cause irritabilidade ou impulsividade, fadiga e outras alterações de comportamento.
• O transtorno do sono agitado não é explicado por outros transtornos do sono, como apneia obstrutiva do sono, síndrome das pernas inquietas, transtorno rítmico do movimento, insônia, ou crises epilépticas.

Para nós, especialistas da Medicina do Sono, esse estudo traz uma nova perspectiva para uma condição pediátrica comum, mas muitas vezes sem diagnóstico definido. A expectativa é que a comunidade médica e científica desenvolva novos estudos e diretrizes para definir as melhores opções de tratamento do transtorno do sono agitado, além da análise da doença em crianças com faixas etárias menores que também costumam apresentar esses sintomas.

 

Referência:
– Lourdes M. DelRosso at al. Consensus diagnostic criteria for a newly defined pediatric sleep disorder: restless sleep disorder (RSD). Sleep Medicine. Volume 75, November 2020, pages 335-340. https://doi.org/10.1016/j.sleep.2020.08.011

– AlVES, RC, In: Distúrbios do Sono, Livro Desenvolvimento da Criança, 2017.

Veja o vídeo explicativo sobre o tema:

Saiba mais sobre terror noturno e sonambulismo: