Por que sonhamos

Sonhamos várias vezes a noite e geralmente os sonhos acontecem na fase mais profunda do sono

Os sonhos sempre despertaram a curiosidade do ser humano e esse é um assunto que tem sido abordado de forma filosófica, psicanalítica, romântica e nas artes há milhares de anos.

Na Mitologia Grega, os sonhos tinham um papel importante, pois eram considerados um modo de comunicação entre o mundo etéreo e o terreno, por meio do qual os Deuses passavam mensagens aos mortais.

Morfeu era o Deus do sono e dos sonhos noturnos e a sua principal habilidade era assumir a forma de qualquer pessoa e entrar nos sonhos de quem estivesse dormindo.

Curioso, não é?

Mas nesse texto vamos abordar a importância médica dos sonhos com uma abordagem neurofisiológica para entendermos o que a ciência nos mostra em relação a existência dos sonhos.

Sonhamos todas as noites

Todos nós sonhamos, em qualquer idade e todas as noites, e a maioria dos sonhos acontece durante o sono REM*, sono profundo caracterizado pelo movimento rápido dos olhos. Eles também podem ocorrer durante o sono de ondas lentas (NREM), mas de forma menos frequente.

Durante o sono REM ocorre a atonia muscular (relaxamento completo dos músculos do corpo), o que é fundamental para nos proteger, pois evita que tenhamos comportamentos motores enquanto dormimos e sonhamos.

Sonhar não é um privilégio do ser humano e diversos estudos mostram que animais, como gatos, cachorros, macacos, ratos e até golfinhos, também sonham, sendo que registros eletrofisiológicos mostram que as fases de sono dos animais são muito parecidas com o que acontece com as pessoas.

A maioria dos sonhos são visuais, mas também é possível ter sonhos auditivos, olfativos ou até várias sensações ao mesmo tempo.

Ciclos de sono

Sonhamos todas as noites, várias vezes, e isso acontece porque o sono é cíclico. Estudos com eletroencefalograma (EEG) mostram que temos cinco a seis ciclos de sono e cada ciclo passa pelas fases 1, 2, 3 e sono REM. Quando atingimos a fase REM sempre temos pelo menos um sonho. Dessa forma, em média, sonhamos cinco à seis vezes por noite.

O sonho faz parte do componente normal do sono REM e acredita-se que é importante para a consolidação da memória e várias atividades mentais. Em todas as espécies, quanto mais jovem maior a quantidade de sono REM e de sonhos, por isso, uma hipótese é que os sonhos sejam importantes para o desenvolvimento do sistema nervoso central.

Lembrar ou não do sonho

O fato de que só de vez em quando sabemos que sonhamos acontece porque, a menos que sejamos despertados durante o sonho ou dentro dos primeiros 10 a 15 minutos após o seu término, nós o esquecemos. Quanto mais precocemente despertamos em relação ao sonho, mais perfeita será a sua reconstituição.

Na maioria das vezes os sonhos estão relacionados com os acontecimentos diários das pessoas. Dessa forma, se você dorme bem e tem um sono de qualidade, o mais habitual é que não se lembre dos sonhos porque nós só lembramos deles quando somos acordados, principalmente, durante o sono REM.

Sonhos ruins

Os pesadelos nada mais são do que sonhos com conteúdos desagradáveis e muitas vezes acontecem quando passamos o dia ansiosos e preocupados, por exemplo, ruminando pensamentos negativos que podem provocar uma instabilidade do sono.

Também podem acontecer após assistirmos filmes com imagens ruins e violentas. Sabemos que pessoas que vivenciaram tragédias podem sofrer com estresse pós-traumático e o pesadelo é um sintoma desse quadro.

Dependendo do conteúdo e da frequência dos pesadelos, a pessoa pode ter uma sensação muito vívida e desagradável que pode levá-la a episódios de insônia, sonolência excessiva diurna e ainda mais ansiedade e até medo de dormir.

Crianças em idade pré-escolar, principalmente entre 4 e 6 anos, são mais sensíveis a pesadelos, por isso, é importante evitar que sejam expostas a eletrônicos e imagens violentas, ainda mais próximo do horário de dormir.

Transtornos do sono

É importante saber que quando acordamos muito durante os sonhos pode ser um sinal de que a qualidade do sono não vai bem. Além de sintomas de ansiedade e estresse, acordar muito durante os sonhos pode estar relacionado à quadros de insônia, ronco e apneia obstrutiva do sono (AOS). Nesse último caso, a pessoa acorda por causa da pausa respiratória provocada pela apneia e são comuns relatos de que a pessoa tem a sensação de sufocamento ou sonhava que estava se afogando.

Sonhos vívidos

Em alguns casos raros, mais comuns em idosos, o paciente pode apresentar comportamentos motores durante os sonhos, o que chamamos de sonhos vívidos.

Os sonhos vívidos, em geral, ocorrem como parte do transtorno comportamental do sono REM, em que os pacientes sonham que estão fazendo algo e conseguem reproduzir esses comportamentos motores, o que pode ser extremamente perigoso para eles e seus parceiros. Por exemplo, o paciente sonha que a casa está pegando fogo e pula da cama em direção à janela ou, para se defender de algo que está sonhando, pode fazer um movimento abrupto em direção à outra pessoa que está na cama.

Apesar de ainda não entendermos todas as causas dos sonhos vívidos, eles costumam estar associados a quadros neurológicos, consumo excessivo de álcool e suspensão abrupta de algumas medicações, como antidepressivos. Nesse caso, é importante procurar a ajuda de um médico para o diagnóstico e o tratamento adequado.

Estudos também mostram que algumas pessoas que apresentam transtorno comportamental do sono REM têm predisposição a desenvolver doenças neurológicas, como a Doença de Parkinson.

Para finalizar, fica a dica: cuide bem da sua saúde e do seu sono, pois isso pode ser importante para ter sonhos mais agradáveis e felizes, mesmo que não se lembre deles.

E se você estiver acordando com muita frequência à noite e recordando seus sonhos, fique atento aos sinais de cansaço, sonolência excessiva diurna, insônia ou outros transtornos do sono.

*Sono REM (Rapid Eye Movement)

Veja o vídeo explicativo sobre sonhos vívidos:

Assista também ao bate-papo nas redes sociais com a jornalista Izabela Camargo sobre sonhos e sono:

Confira a LIVE sobre o tema com o Dr. George Pinheiro, otorrinolaringologista e especialista em Medicina do Sono: