Apneia, insônia e pernas inquietas são comuns na terceira idade

Idosos também tendem a iniciar o sono mais cedo e a acordar mais cedo pela manhã, o que caracteriza um avanço de fase do sono.

À medida em que envelhecemos, o sono sofre alterações qualitativas e quantitativas com o passar do tempo, assim, aos 60 anos não dormimos da mesma maneira como quando tínhamos 20 anos. Mas é importante saber que a necessidade de sono permanece a mesma: recomenda-se que os adultos, independentemente da idade, durmam cerca de 8 horas por noite para manter uma boa saúde física e mental.

Estudos mostram que transtornos do sono são muito comuns nas pessoas com mais de 60 anos. Apesar da maioria dos idosos não sentir mudança no tempo para iniciar o sono, despertares noturnos passar a ocorrer com maior frequência. O ritmo circadiano (também conhecido como relógio biológico) se altera e os idosos tendem a adormecer mais cedo e a acordar mais cedo pela manhã, o que caracteriza um avanço de fase do sono.

Transtornos do sono tornam-se mais comuns na terceira idade, o que contribui para o aumento do risco de desenvolvimento de condições mais graves como demência, depressão, acidente vascular cerebral (AVC), doença cardíaca, obesidade e diabetes.

Apesar do sono mudar com o avançar da idade, não podemos considerar normal uma má qualidade de sono. Estudos evidenciam que a privação crônica de sono nos idosos, que pode ser decorrente de várias condições como a insônia, prejudica a atenção, a memória e aumenta a frequência de queixas cognitivas. Assim, ter um ciclo sono-vigília regular está relacionado com uma melhor cognição nesse grupo populacional.

Veja a seguir os transtornos do sono mais comuns nos idosos:

Apneia do sono

Cerca de dois terços dos adultos com mais de 65 anos têm sintomas leves ou graves de síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS), um problema respiratório em que a via aérea superior é obstruída durante o sono, levando à dificuldade para respirar. Com o tratamento adequado, é possível melhorar a qualidade do sono e aumentar a quantidade de oxigênio no sangue.

A apneia do sono pode impactar de forma significativa a qualidade de vida das pessoas, pois está relacionada à fragmentação e privação de sono, levando também à insônia. Sabemos que a apneia pode exacerbar a hipertensão arterial sistêmica, a doença isquêmica coronariana e a síndrome metabólica, que são fatores de risco predisponentes para o AVC (derrame).

 Insônia

 Caracteriza-se pela queixa da dificuldade em iniciar e/ou manter o sono, ou ainda a queixa de má qualidade do sono. Para o diagnóstico da insônia é necessário que o sintoma seja frequente (três ou mais vezes na semana) e que acarrete algum outro sintoma diurno, como cansaço, déficit de atenção, concentração ou memória, transtorno de humor, sonolência excessiva diurna, entre outros.

A insônia causa comprometimento social, acadêmico e comportamental, além de ser um fator de risco para Acidente Vascular Cerebral (AVC) e fator de risco primário para o desenvolvimento de depressão.

Sono fragmentado

Muitos idosos reconhecem que seu sono está mais fragmentado. Frequentes despertares noturnos representam a queixa mais comum relacionada à idade. Os idosos que têm insônia ou sono fragmentado têm risco aumentado de doença cerebral, além do prejuízo cognitivo e emocional.

Sabemos que os idosos com sono fragmentado têm um maior risco para o declínio cognitivo mais rápido e doença de Alzheimer do que idosos sem sono fragmentado.

Síndrome das pernas inquietas (SPI)

A Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) também é comum nos idosos e se caracteriza pela necessidade urgente de mover as pernas, geralmente acompanhada por desconforto ou incômodo. Os sintomas acontecem ou pioram em repouso, quando o paciente está sentado ou deitado, principalmente à noite. Ao mesmo tempo, os sintomas aliviam total ou parcialmente com o movimento.

A síndrome está associada à diversas condições clínicas, como insônia, insuficiência vascular, insuficiência renal, anemia ferropriva, insuficiência hepática, uso de álcool, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), fibromialgia, esclerose múltipla, Doença de Parkinson, assim como o uso de vários medicamentos (ex: anti-histamínicos, neurolépticos e alguns antidepressivos).

Transtorno Comportamental do sono REM

Esse transtorno refere-se à ausência da atonia muscular durante o sono REM (fase do sono profundo em que ocorre o movimento rápido dos olhos). O paciente literalmente “vivencia” os sonhos, gerando comportamentos motores e até violentos, podendo agredir quem estiver ao seu lado, ferir-se ou até destruir pertences da casa.

O quadro clínico é caracterizado por uma história de anos de duração (10 – 20 anos) de sono agitado, com movimentos de membros e vocalizações durante o sono. A tríade de sono agitado, sonhos vívidos e comportamentos motores em idosos é clinicamente sugestiva. A prevalência na população geral é desconhecida, sendo mais comum em homens idosos com mais de 65 anos. Além disso, em cerca de 30% a 40% dos casos o transtorno é associado a doenças neurológicas, como demência, esclerose múltipla, AVC, ou doenças tóxico-metabólicas.

Sono saudável na terceira idade

1. Evite a ingestão de cafeína após o período da tarde e noite
2. Evite álcool no período da noite
3. Exponha-se à luz durante o dia
4. Faça atividades físicas regularmente
5. Mantenha a temperatura do quarto confortável para iniciar e manter o sono
6. Mantenha o quarto escuro e silencioso à noite
7. Mantenha rotinas para acordar e dormir na mesma hora todos os dias
8. No caso dos fumantes, evite o fumo e substâncias com nicotina quatro horas antes de se deitar.

Caso os sintomas descritos acima sejam muito frequentes e estejam comprometendo o desempenho funcional e cognitivo do idoso, prejudicando a sua qualidade de vida, é importante procurar a ajuda de um especialista em Medicina do Sono para avaliação e diagnóstico. Existem medidas de higiene do sono e tratamentos que podem contribuir para a melhora dessas condições clínicas. 


Referência:

– “Uma boa noite de sono” do Instituto Nacional do Envelhecimento (NIA). Disponivel em: www.nia.nih.gov/health/publication/good-nightssleep.

–  Associação Brasileira do Sono. Cartilha do Sono. Semana do Sono 2019. Associação Brasileira do Sono. Brasil. 2019. Disponível em: < http://semanadosono.com.br/assets/cartilha-sem19.pdf>.

ALVES, ROSANA S. CARDOSO. Disturbios do Sono. In: Ricardo Nitrini e Luiz A. Bacheschi. (Org.). A Neurologia que todo medico deve saber. 3aed.sao paulo: Atheneu, 2015, p. 363-371

Veja também esse vídeo explicativo sobre pernas inquietas: