Insônia: muito além da dificuldade de dormir

Certamente, a insônia é um dos principais transtornos do sono que acomete a população, em diferentes faixas etárias, com maior prevalência em mulheres. Para se ter uma ideia, estima-se que 40% a 50% dos brasileiros queixam-se de insônia, sendo que 10% consideram seu problema grave. Já nos Estados Unidos, 51% dos norte-americanos queixam-se de insônia algumas noites por semana e 29% reclamam quase diariamente ou diariamente desses sintomas.

A insônia recebe diferentes classificações, como insônia crônica; insônia aguda; outras insônias; sintomas isolados e variantes da normalidade. O parâmetro que diferencia a insônia “sintoma” da insônia “transtorno” é a dimensão do impacto clínico que essa alteração provoca no paciente.

De acordo com o último Consenso sobre insônia publicado pela Associação Brasileira do Sono (ABS), em 2019, ela caracteriza-se pela dificuldade persistente para dormir, com duração de mais de três meses, gerando outros sintomas no indivíduo como fadiga, alteração de humor e perda de concentração, provocando alterações no funcionamento diurno das pessoas.

Ainda, de acordo com o Consenso, a prevalência mundial de sintomas de insônia é de aproximadamente 30 – 35%, e a do transtorno de insônia pode variar de 3,9% a 22,1%, dependendo dos critérios de diagnósticos utilizados.

Durante décadas, a insônia foi abordada apenas como um sintoma secundário relacionado a outras doenças. No entanto, após anos de estudos e observação clínica, especialistas e pesquisadores puderam constatar que a dificuldade persistente para dormir pode configurar uma síndrome por si só: a insônia, refletindo um estado físico e psíquico do indivíduo.

Essa dificuldade de dormir pode envolver o início, a duração, a consolidação e a qualidade do sono, ocasionando prejuízos diurnos. Principais queixas:

• Dificuldade de iniciar o sono.
• Dificuldade de manter o sono após o despertar no meio da noite.
• Despertares frequentes ao longo da noite com dificuldade de voltar a dormir.
• Despertar precoce pela manhã com dificuldade de retornar ao sono.
• Insatisfação com a qualidade do sono.

Geralmente, pessoas com padrão de maior ansiedade têm mais dificuldade de iniciar o sono. Já aquelas com perfil mais depressivo, em geral conseguem dormir no horário, mas acordam no meio da noite e não voltam a dormir. Também existem as pessoas que ficam acordando a noite inteira e se sentem exaustas pela manhã.

Causas da insônia

Fatores estressantes com impacto físico e psicológico impactam a vida das pessoas e são precipitadores da insônia, por exemplo, demissão no trabalho, viagem, hospitalização, ambiente de sono desconfortável, entre outros. Dessa forma, a suspensão do fator estressor precipitante ou a adaptação ao estresse é fundamental para tratar a insônia.

A insônias também podem estar associadas a transtornos mentais (como a ansiedade generalizada), condições médicas (por exemplo, hipertireoidismo), uso de drogas e substâncias, além da higiene do sono inadequada.

Principais causas:

• 34% doenças psiquiátricas
• 29% síndrome das pernas inquietas/ transtorno de movimentos do sono
• 11% alterações do ritmo circadiano
• 9% problemas respiratórios, como a apneia obstrutiva do sono
• 9% causas médicas
• 8% insônia psicofisiológica

Impacto e consequências

Frequentemente, a insônia resulta em sintomas diurnos, físicos e emocionais, com impacto no desempenho das funções sociais e cognitivas dos pacientes. Com isso, os quadros de insônia estão associados a distúrbios de humor, dificuldade de concentração e de memorização.

Em longo prazo, os efeitos da insônia podem ocasionar:

• Acidentes de trabalho
• Depressão
• Fadiga
• Mialgia (dor muscular excessiva)
• Prejuízo do desempenho
• Redução da concentração, atenção e memória
• Redução da libido
• Sonolência diurna

Também já sabemos que a insônia está associada ao desenvolvimento de doenças pulmonares, cardiovasculares e gastrointestinais, o que reforça a importância de procurar a ajuda de um especialista para tratar o problema. Em relação ao tratamento, para a insônia aguda, por exemplo, são recomendadas técnicas de relaxamento e terapia cognitiva-comportamental.

Aumento das queixas de insônia na pandemia

A pandemia do novo coronavírus chamou a atenção para o tema. E a mais comum foi a insônia aguda, transitória ou de ajustamento ocasionadas por situações desagradáveis, como mudança de rotina, luto pela perda de familiares e amigos, redução de renda, mudança de atividade profissional ou desemprego. São preocupações que afetam o sono e podem durar dias ou meses.

Segundo um estudo coordenado pelos especialistas da Associação Brasileira da Medicina do Sono (ABMS) e da Associação Brasileira do Sono (ABS) durante o primeiro semestre de 2020, 41% dos profissionais de saúde entrevistados disseram apresentar novas queixas ou piora nos quadros de insônia. O levantamento ouviu 4,9 mil profissionais de saúde de todas as regiões do Brasil, entre 30 de maio e 25 de junho.

O estudo “Como está o sono dos profissionais de saúde em tempos de pandemia?” teve como objetivo primário investigar o impacto da pandemia na insônia entre os profissionais de saúde, correlacionando a doença com fatores como ansiedade e burnout, um estado de esgotamento físico e mental, geralmente, causado pela atividade profissional do indivíduo.

Além de revelar que 41% dos profissionais de saúde entrevistados tinham sintomas de insônia ou pioraram a insônia já existente durante a pandemia, o estudo mostrou também que 61% dos participantes tiveram piora na qualidade do sono e 13% iniciaram tratamento medicamentoso para o problema durante a pandemia.

 

Referência:
Consenso Insônia: diagnóstico e tratamento
“Estudo brasileiro revela aumento de casos de insônia entre os profissionais de saúde na pandemia”, em Revista Sono – 22ª edição.
– ALVES, ROSANA S. CARDOSO . Distúrbios do Sono. In: Ricardo Nitrini e Luiz A. Bacheschi. (Org.). A Neurologia que todo médico deve saber. 3a ed. São Paulo: Atheneu, 2015, p. 363-371

Veja também o vídeo com dicas para prevenir a insônia: